quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Despedindo-me de Paul


Ano passado dois amigos foram ao Coachella, aquele festival americano, e viram shows que me deixaram com muita vontade. O lineup do festival era mesmo irretocável, com Leonard Cohen, Morrissey, The Cure, entre várias outras coisas boas. E o headliner do festival era simplesmente definitivo: Sir Paul McCartney.

Foi duro ter que declinar de ir a este festival. E eu só não fui mesmo porque na época tive um problema de saúde. Mas na volta os amigos me contaram tudo: Leonard Cohen foi incrível, Morrissey arrasou, mas Sir Paul... bom, eles me perguntaram, o que você pode esperar de um show de Paul McCartney? E me disseram sem sombra de dúvidas: foi o melhor show que viram na vida.

Eu, fã de Beatles por osmose por causa de meu pai, sempre achei que o Paul McCartney me "escapava". Em 1990 e 93, quando ele veio ao Brasil, eu estava viajando e não fui aos shows. E achei que não teria outra oportunidade, por isso fiquei frustradíssima de não ir ao Coachella. Mas então Macca saiu em turnê... e eu, visitante assídua de seu site, comecei a receber as notificações sobre a turnê européia (os emails chegam com o nome dele no remetente e eu sempre fico numa felicidade quase infantil quando vejo "Paul McCartney" na minha caixa de entrada...). A turnê européia era curtinha e amigos que viram o show em Londres e Alemanha começaram a me mandar fotos e comentários incríveis sobre as apresentações. Até que um amigo do Brasil enlouqueceu e resolveu ir ao show em Paris e comprou dois ingressos. Não tive dúvidas: saquei todas as milhas que eu tinha, pedi hospedagem para uma amiga que mora lá e parti para ver o que foi chamado “Good Evening Paris” com ele.

Este é o tipo de coisa que me orgulho em fazer e considero como investimento e não esbanjamento: ver shows das bandas que gosto, não importa onde. Claro que isso nem sempre é possível, mas quando a gente se organiza, economiza e tem vontade, não é um sonho impossível. Tendo isso como premissa, ano passado eu já havia visto o show inaugural do Pearl Jam para o disco novo em Seattle (com abertura do Ben Harper!), o U2 na turnê 360º em NY e o Bruce Springsteen no último show do Giants Stadium em New Jersey. Como é que eu poderia então deixar de lado o show do Paul em Paris? Coloquei a mochila nas costas e fui. E aquele foi o show da minha vida (até aquele momento). Fiz muitas fotos, escrevi à respeito, espalhei aos quatro ventos o quanto assistir a um concerto do Paul McCartney era uma experiência transformadora na vida de quem ama música, gosta de Beatles e admira o sir, uma das figuras mais competentes e carismáticas do cenário musical de todos os tempos – e para quem viu pelo menos um show no Brasil sabe que nada do que escrevi aqui é exagero.

No início de 2010 ele saiu em turnê pelos Estados Unidos e eu atormentei todos os meus amigos morando pelo país a irem ver os shows. Todos os que cederam aos meus apelos me ligaram ou escreveram depois para agradecer a minha recomendação (quase intimação) e concordando que aquele tinha sido o melhor show que já haviam visto na vida.

Confesso que eu já havia perdido as esperanças de que a turnê Up & Coming viesse para o Brasil depois de tantos boatos e nenhuma confirmação. Mas quando as datas finalmente foram anunciadas, me coloquei a postos para comprar ingressos para todos os dias em todas as cidades. E assim, no dia 7 de novembro parti sozinha para Porto Alegre. Lá tive a sorte de encontrar amigos novos com quem pude compartilhar mais um grande momento. As apresentações do Paul são muito cheias de amor – seja pela temática das canções ou pelas homenagens e perfil do público – o que faz do evento um encontro muito emocionado entre amigos, família, amores... e em Porto Alegre tive como companhia gaúchos muito legais e queridos. E lá vi o Paul falando em português pela primeira vez e, uma vez mais, admirei o quanto aquele homem de 60 e tantos anos continuava o mesmo moleque divertido e carismático, que eu já tinha visto elétrico e falando francês um ano antes. E novamente fui às lágrimas com My love, Something, Yesterday e tantas outras. E novamente cantei a plenos pulmões Band on the run, Let me roll it, Eleanor Rigby, I’ve got a feeling, Helter Skelter... Voltei para casa na segunda-feira muito feliz e com o sentimento de "missão cumprida" por não ter cedido a comentários como "que exagero ir até Porto Alegre!".

Na semana dos shows em São Paulo ninguém falava de outra coisa. E eu não imaginava que ficaria tão ansiosa, uma vez que já tinha dois shows da mesma turnê no currículo. Mas fiquei. Fiquei muito ansiosa. Ver Paul McCartney em São Paulo teve uma magnitude diferente para mim. Me planejei para ver os shows com meu pai, responsável pelo meu gene beatlemaníaco e, além dele, com amigos muito amados e importantes na minha vida. E cantar Hey Jude abraçada a essas pessoas especiais misturadas a outras 60 mil vibrando e emocionando-se do mesmo jeito foi de uma beleza tão única que estou certa de que jamais vou me esquecer.

No show da última segunda-feira me senti como se EU estivesse encerrando minha turnê particular nessa aventura. Para mim foi um grande encerramento. Apesar do trânsito, da chuva, de encontros e desencontros pelo show, a apresentação da última segunda-feira foi a melhor de todas as quatro que vi. Nenhuma das anteriores teve algo de ruim, muito pelo contrário. Elas foram bastante parecidas e tiveram poucas diferenças no setlist. Mas para mim cada uma foi única e a última que vi teve um gostinho de despedida doce. Despedidas são difíceis, mas quando a gente se despede direitinho e vai embora satisfeito, feliz, leve, a despedida é suave. E a sensação não é de adeus, mas de gratidão por ter vivido tudo isso. Penso que não foi só por todo o rock n’roll do show (bem feito, pesado e competente), nem só por vermos ali no palco um beatle cantando canções que todos sabem de cor. Penso que o que faz de um show do Paul McCartney uma coisa única e maravilhosa é justamente sua capacidade genial de compartilhar mensagens de amor. Penso que não é à toa que Paul escolheu The end para encerrar o show – “and in the end, the love you take is equal to the love you make”.