segunda-feira, 27 de julho de 2009

Flower power girls

Diferente de Caetano quando chegou em Sampa, para mim sempre houve Rita Lee. Quando era criança, era louca por ela. Adorava “Lança perfume” e nunca entendia por que meu pai, apesar de admirar meu gosto pela Rita, me desencorajava a cantar a parte do “me deixa ficar de quatro no ato, me enche de amor”.
Hoje, enquanto assistia a “Loki”, documentário sobre o Arnando Batista, não pude deixar de pensar na minha paixão pela Rita na infância e foi impossível, claro, não refletir sobre o real poder dessa mulher sobre o que aconteceu naquele momento da música, com os Mutantes, com o Arnaldo, o Sérgio e todos os que orbitavam aquela viagem. A saída da Rita dos Mutantes foi o fim pra eles e, de certo modo, o fim de um homem que nunca mais se recuperou da passagem daquele furacão pela vida dele.
Vendo mais de perto o que foi da vida do Arnaldo depois da Rita Lee e dos Mutantes, outra coisa me chamou a atenção: o quanto algumas mulheres têm o poder de arrasar ou salvar alguns homens. Se o Arnaldo nunca mais foi a mesma pessoa depois da Rita, certamente nós não saberíamos jamais o que ele foi depois dela não fosse pela Lucinha, sua atual esposa.
Me lembrei de Johnny Cash e June Carter-Cash. E mesmo de Ozzy e Sharon Orbourne, à despeito das preocupações, motivos e propósitos de cada um. Penso o que teria sido desses homens não fossem essas mulheres que lhes acompanharam no céu e no inferno das coisas.
A viagem das drogas também foi pesada na história das mulheres da música. Mas não sei de nenhum homem salvando Billie Holiday e Janis Joplin do fim trágico que abreviou histórias de genialidade e sucesso.
Aí, romântica que sou, penso também no poder transformador do amor e como esse poder guia de maneira total e absoluta a vida de algumas pessoas, sendo o grande responsável, de verdade, por seus destinos.
Teria Arnaldo sobrevivido à sua tentativa de suicídio e (até pior, sendo ele um artista) ao ostracismo não fosse pelos cuidados da Lucinha? Estaria Tom Zé produzindo álbuns tão felizes e realizando performances ainda tão vibrantes se não tivesse Neusa para cuidar de sua casa, sua agenda de jardinagem e sua obra?
O próprio Tom Zé, poço de sabedoria que é, aborda como devido respeito e reverência a importância da figura da mulher na vida de um homem em “Medo de mulher”, música em que homenageia o poder mítico e natural das mulheres em relação aos homens.
Por trás desse poder feminino, ainda que haja objetividade, força, interesses e motivações mais mundanas, vejo o amor.
Acho que Rita Lee deixou Arnaldo e os Mutantes porque o amor acabou – e, nesse sentido, pouco importa se ela era ambiciosa, se teve a cabeça feita para seguir em carreira solo (até porque sua carreira solo é de tremendo sucesso e reconhecimento mesmo não tendo um décimo da genialidade dos Mutantes) – e quando o amor acaba, as coisas perdem o sentido e precisam de outro rumo. Se Rita Lee ainda amasse Arnaldo e os Mutantes ela não teria ido embora. Se amava, foi embora quando desistiu de amar.
As mulheres são assim – quando resolvem que não amam mais, colocam a viola no saco e saem pra vida em busca do amor que faltou, como a Rita. E quando resolvem amar, não importa o que terão que fazer por esse amor. Entregam-se de coração e são capazes de dedicar a vida ao seu amor, como a Lucinha.
Parece muito romântico encarar o amor como elemento transformador da vida dessas pessoas geniais e até ingênua essa condição de “loucos necessitados de resgate” que atribuo aos homens desse texto e “grandes forças destruidoras e regenerativas” que atribuo às mulheres, mas se pararmos para pensar, teria Johnny Cash gravado “Folsom Prision” se ele não tivesse convencido June Carter de que seu amor valia a pena? Teria Arnaldo Batista composto “Balada do Louco” se não houvesse Rita Lee?