Pelo menos esta noite, pelo menos para alguns dos milhões de mortais que estavam acompanhando a banda esta noite, ao vivo em LA, no Rose Bowl, ou de casa, como eu, seguindo a transmissão ao vivo no YouTube, o U2 pareceu a maior banda do planeta.
A idéia de ter milhões de pessoas assistindo ao show ao mesmo tempo, de diferentes partes do planeta, é fabulosa. E tudo bem se isso já nem parece mais novidade, afinal, já em 1967 os Beatles participaram da primeira transmissão de TV global via satélite para 26 países e foram vistos por 400 milhões de pessoas. E os Stones fizeram uma “quase-tentativa” de broadcast em 95. Mas foi o show do David Bowie, em 2003, que me causou uma comoção, ao ser transmitido ao vivo e com muita eficiência para diversos cinemas no mundo todo de Londres, no kick-off da turnê “Reality”. Assistir a esse show em Stereo Dolby Digital no cinema UCI com amigos queridos foi uma experiência marcante, que não consigo esquecer.
Mas ainda que a idéia não seja tão nova, certamente este show do U2 deverá entrar para a história. Vamos aguardar os números do YouTube. E não vou negar que tive alguns momentos de frustração no início, quando o link não suportava os acessos e a transmissão dava problemas. Vi a interrupção da transmissão somente uma vez (por sorte!), mas em outros momentos, fiquei sem a transmissão da imagem, acompanhando os acontecimentos apenas pelo som. Foram momentos de ansiedade, como se alguém tivesse entrado na minha frente e eu não conseguisse mais enxergar o palco. Engraçado!
Como show, musicalmente falando, o show foi irrepreensível, mesmo com uma ou outra escorregada – o que aliás, deixa o show mais divertido.
Eles começaram o show carregando nas músicas do último disco, como “Get on your boots” e “Magnificent”. Aliás, é em “Magnificent” que Bono cumprimenta a platéia, parecendo o Robert de Niro em “Taxi Driver”, e puxa a emoção das pessoas para o alto do palco, cantando com muita sedução, na companhia de The Edge, atacando sua guitarra com um “slide” muito afinado.
Bono encara a platéia de frente, começa “Mysterious ways” de modo muito sedutor e com um humor bem característico de LA, meio “rapper de ocasião”, pedindo às pessoas “put your hands in the air”, o que é muito divertido.
Ver um show transmitido ao vivo tem várias curiosidades interessantes de serem observadas, já que nada é editado ao ser transmitido. Como a entrada da banda no palco, vinda lá do backstage, onde a gente pressente um certo nervosismo (e pensa “pode uma banda como o U2 sentir nervosismo antes de entrar no palco?”, mas aí você vê o nervosismo nos olhos de Larry Jr e entende que esses caras, afinal, são apenas pessoas de carne e osso, como a gente!).
Em “Beautiful day” um rodie atrapalhado trocou o microfone do Bono bem na introdução da musica, mas ele não se intimida e canta lindamente. Na verdade, ele parece cansado, sentadinho na escada de uma das rampas. Mas ainda assim canta lindamente. Os shows dessa nova turnê 360 graus têm uma tônica diferente e é preciso que a gente se acostume com isso. O andamento das músicas é mais lento, o que faz a banda parecer meio cansada em alguns momentos, mas eles compensam com canções intensamente trabalhadas e um som claro e cristalino, onde você ouve cada instrumento com muito discernimento e intensidade. E isso é fantástico.
Antes de apresentar a banda, no meio do show, Bono agradece ao Black Eye Peas, agradece LA, Bill Clinton, George Clinton (quem mais, além de Bono, pode agradecer aos diferentes Clinton com tamanha propriedade e bom humor?) e aos 7 continentes presentes no YouTube, acompanhando o show em seus computadores. E eu me sinto participando do evento! (“Faço eu parte da história?”, não consigo deixar de pensar).
Em “Still haven’t found what I’m looking for”, a banda introduz a música, mas é a platéia que canta, a plenos pulmões, toda a primeira parte da canção. Bono se junta às milhões de vozes, e encerra a canção emendando em “Stand by me”, canção dos Beatles, que o U2 toca há muito tempo, entregando novamente à platéia a doce tarefa de cantar.
O show tem altos e baixos, não podemos negar, além de momentos surpreendentes, como a versão meio sertaneja de “ Stuck in a moment”, onde somente The Edge, ao violão, e Bono, fazem um dueto, com uma bela segunda voz de The Edge, num momento bem performático, tentando se encontrar com Bono, um em cada uma das pontes que se movem no palco “Spaceship 360 degrees”.
Este é um show do U2 que faz você pensar. Principalmente se for fã da banda. “Será esta a maior banda do mundo?” – esta é uma pergunta que me faço ao longo do show todo. Por outro lado, é perceptivel o quanto os caras são engajados com determinadas causas, mas também o quanto são “marketeiros”, ou seja, o quanto conseguem promover (e conseqüentemente vender) qualquer que seja a causa do momento.
Tudo parece milimetricamente calculado. O show é dirigido com maestria e quando você se dá conta, está cantando e pulando, mesmo que do sofá de casa (meus vizinhos que me perdoem!). Som, imagem e luzes parecem impecáveis, mas eis que de repente Bono erra a introdução de “In a little while”, entra atrasado e tudo soa errado por alguns segundos. The Edge se aproxima, eles se entreolham e há uma atmosfera de que “ok, deu problema, mas está tudo bem agora”. E aí você lembra que essa é uma transmissão ao vivo. Não há edição. Você está vendo Bono Voz errar a introdução de uma música ao vivo! Sensacional! Pois nem isso estraga – nem de longe – a grandiosidade desta apresentação, do palco 360 graus, da grande banda que o U2 se transformou.
E é tudo muito curioso, pois na mesma música em que você percebe que Bono também erra, ele pede que o astronauta da Estação Espacial americana, declame os últimos versos da canção. Lá do espaço! Quem mais poderia fazer isso?
Eles emendam a canção em “Unknown caller” e “Until the end of the world”, com um show de luzes e expansões do telão que são magníficos. Bono começa a correr pela longa plataforma antes do início de “City of blinding lights”, o que te faz pensar “como é que ele vai cantar agora?”. Mas ele canta. Linda e profundamente, dirigindo-se à câmera e perguntando “can you see the beauty inside of me?”. Claro que podemos, Bono!
A partir daí o show explode. Vertigo tira as pessoas do chão, ainda mais depois que Bono diz para as pessoas “I had some Spanish lessons, I had added some Irish accent” e canta “uno, dos, tres, catorze”, para iniciar Vertigo e depois terminá-la com versos de “It’s only rock and roll” dos Stones.
Em “Walk on” ele faz a homenagem a Aung San Suu Kyi (lider eleita de Burma, que nunca pode assumir sua posição) e a banda sai do palco por alguns segundos. No retorno, ouvimos : “One” e “Where the streets have no name”, que nos fazem lembrar que U2 tem momentos que são realmente só deles.
Na segunda entrada Bono está usando uma jaqueta de leds vermelhos e canta pendurado um microfone que parece um volante de chevete. Ele pode.
Tudo isso cria um clima para “With or without you”, que nos permite ouvir uma linha de baixo única e lindamente tocada por Adam Clayton, o que provavelmente seria difícil de perceber se estivéssemos presentes no show ao vivo.
Bono então transforma o público na Via Láctea ao pedir as pessoas para ligarem seus telefones celulares e cantar “Moment of surrender”, de um modo realmente único e surpreendente.
Sim, pelo menos esta noite, estou convencida de que o U2 é a maior banda do planeta.
E parece que todo o thread que seguiu a banda no YouTube, Twitter e Facebook parece concordar.
O rock n’roll chegou à era digital finalmente.
A idéia de ter milhões de pessoas assistindo ao show ao mesmo tempo, de diferentes partes do planeta, é fabulosa. E tudo bem se isso já nem parece mais novidade, afinal, já em 1967 os Beatles participaram da primeira transmissão de TV global via satélite para 26 países e foram vistos por 400 milhões de pessoas. E os Stones fizeram uma “quase-tentativa” de broadcast em 95. Mas foi o show do David Bowie, em 2003, que me causou uma comoção, ao ser transmitido ao vivo e com muita eficiência para diversos cinemas no mundo todo de Londres, no kick-off da turnê “Reality”. Assistir a esse show em Stereo Dolby Digital no cinema UCI com amigos queridos foi uma experiência marcante, que não consigo esquecer.
Mas ainda que a idéia não seja tão nova, certamente este show do U2 deverá entrar para a história. Vamos aguardar os números do YouTube. E não vou negar que tive alguns momentos de frustração no início, quando o link não suportava os acessos e a transmissão dava problemas. Vi a interrupção da transmissão somente uma vez (por sorte!), mas em outros momentos, fiquei sem a transmissão da imagem, acompanhando os acontecimentos apenas pelo som. Foram momentos de ansiedade, como se alguém tivesse entrado na minha frente e eu não conseguisse mais enxergar o palco. Engraçado!
Como show, musicalmente falando, o show foi irrepreensível, mesmo com uma ou outra escorregada – o que aliás, deixa o show mais divertido.
Eles começaram o show carregando nas músicas do último disco, como “Get on your boots” e “Magnificent”. Aliás, é em “Magnificent” que Bono cumprimenta a platéia, parecendo o Robert de Niro em “Taxi Driver”, e puxa a emoção das pessoas para o alto do palco, cantando com muita sedução, na companhia de The Edge, atacando sua guitarra com um “slide” muito afinado.
Bono encara a platéia de frente, começa “Mysterious ways” de modo muito sedutor e com um humor bem característico de LA, meio “rapper de ocasião”, pedindo às pessoas “put your hands in the air”, o que é muito divertido.
Ver um show transmitido ao vivo tem várias curiosidades interessantes de serem observadas, já que nada é editado ao ser transmitido. Como a entrada da banda no palco, vinda lá do backstage, onde a gente pressente um certo nervosismo (e pensa “pode uma banda como o U2 sentir nervosismo antes de entrar no palco?”, mas aí você vê o nervosismo nos olhos de Larry Jr e entende que esses caras, afinal, são apenas pessoas de carne e osso, como a gente!).
Em “Beautiful day” um rodie atrapalhado trocou o microfone do Bono bem na introdução da musica, mas ele não se intimida e canta lindamente. Na verdade, ele parece cansado, sentadinho na escada de uma das rampas. Mas ainda assim canta lindamente. Os shows dessa nova turnê 360 graus têm uma tônica diferente e é preciso que a gente se acostume com isso. O andamento das músicas é mais lento, o que faz a banda parecer meio cansada em alguns momentos, mas eles compensam com canções intensamente trabalhadas e um som claro e cristalino, onde você ouve cada instrumento com muito discernimento e intensidade. E isso é fantástico.
Antes de apresentar a banda, no meio do show, Bono agradece ao Black Eye Peas, agradece LA, Bill Clinton, George Clinton (quem mais, além de Bono, pode agradecer aos diferentes Clinton com tamanha propriedade e bom humor?) e aos 7 continentes presentes no YouTube, acompanhando o show em seus computadores. E eu me sinto participando do evento! (“Faço eu parte da história?”, não consigo deixar de pensar).
Em “Still haven’t found what I’m looking for”, a banda introduz a música, mas é a platéia que canta, a plenos pulmões, toda a primeira parte da canção. Bono se junta às milhões de vozes, e encerra a canção emendando em “Stand by me”, canção dos Beatles, que o U2 toca há muito tempo, entregando novamente à platéia a doce tarefa de cantar.
O show tem altos e baixos, não podemos negar, além de momentos surpreendentes, como a versão meio sertaneja de “ Stuck in a moment”, onde somente The Edge, ao violão, e Bono, fazem um dueto, com uma bela segunda voz de The Edge, num momento bem performático, tentando se encontrar com Bono, um em cada uma das pontes que se movem no palco “Spaceship 360 degrees”.
Este é um show do U2 que faz você pensar. Principalmente se for fã da banda. “Será esta a maior banda do mundo?” – esta é uma pergunta que me faço ao longo do show todo. Por outro lado, é perceptivel o quanto os caras são engajados com determinadas causas, mas também o quanto são “marketeiros”, ou seja, o quanto conseguem promover (e conseqüentemente vender) qualquer que seja a causa do momento.
Tudo parece milimetricamente calculado. O show é dirigido com maestria e quando você se dá conta, está cantando e pulando, mesmo que do sofá de casa (meus vizinhos que me perdoem!). Som, imagem e luzes parecem impecáveis, mas eis que de repente Bono erra a introdução de “In a little while”, entra atrasado e tudo soa errado por alguns segundos. The Edge se aproxima, eles se entreolham e há uma atmosfera de que “ok, deu problema, mas está tudo bem agora”. E aí você lembra que essa é uma transmissão ao vivo. Não há edição. Você está vendo Bono Voz errar a introdução de uma música ao vivo! Sensacional! Pois nem isso estraga – nem de longe – a grandiosidade desta apresentação, do palco 360 graus, da grande banda que o U2 se transformou.
E é tudo muito curioso, pois na mesma música em que você percebe que Bono também erra, ele pede que o astronauta da Estação Espacial americana, declame os últimos versos da canção. Lá do espaço! Quem mais poderia fazer isso?
Eles emendam a canção em “Unknown caller” e “Until the end of the world”, com um show de luzes e expansões do telão que são magníficos. Bono começa a correr pela longa plataforma antes do início de “City of blinding lights”, o que te faz pensar “como é que ele vai cantar agora?”. Mas ele canta. Linda e profundamente, dirigindo-se à câmera e perguntando “can you see the beauty inside of me?”. Claro que podemos, Bono!
A partir daí o show explode. Vertigo tira as pessoas do chão, ainda mais depois que Bono diz para as pessoas “I had some Spanish lessons, I had added some Irish accent” e canta “uno, dos, tres, catorze”, para iniciar Vertigo e depois terminá-la com versos de “It’s only rock and roll” dos Stones.
Em “Walk on” ele faz a homenagem a Aung San Suu Kyi (lider eleita de Burma, que nunca pode assumir sua posição) e a banda sai do palco por alguns segundos. No retorno, ouvimos : “One” e “Where the streets have no name”, que nos fazem lembrar que U2 tem momentos que são realmente só deles.
Na segunda entrada Bono está usando uma jaqueta de leds vermelhos e canta pendurado um microfone que parece um volante de chevete. Ele pode.
Tudo isso cria um clima para “With or without you”, que nos permite ouvir uma linha de baixo única e lindamente tocada por Adam Clayton, o que provavelmente seria difícil de perceber se estivéssemos presentes no show ao vivo.
Bono então transforma o público na Via Láctea ao pedir as pessoas para ligarem seus telefones celulares e cantar “Moment of surrender”, de um modo realmente único e surpreendente.
Sim, pelo menos esta noite, estou convencida de que o U2 é a maior banda do planeta.
E parece que todo o thread que seguiu a banda no YouTube, Twitter e Facebook parece concordar.
O rock n’roll chegou à era digital finalmente.
O palco-espaçonave do U2 no Giants Stadium - New Jersey, 23/9/2009 |