domingo, 27 de setembro de 2009

Moment of surrender

U2 no palco-espaçonave aterrissado no Giants Stadium - New Jersey, 23/9/2009
Mesmo quebrando recordes de publico no Giants Stadium e impressionando o publico com a grandeza de seu palco 360 graus, eh notavel que a turne de No Line on the Horizon do U2 nao tem o mesmo poder hipnotizante de publico que as duas turnes anteriores tinham.
As turnes do "Coracao" e "Vertigo", que apresentavam respectivamente "All that you cant leave behind" e "How to dismantle an atomic bomb" tinham palcos menores e um pouco mais intimistas. Os setlists tambem pareciam mais poderosos, com cancoes mais rock n'roll do que agora.
Parece inegavel tambem que Bono - principalmente ele - nao tem mais a mesma energia de antes no palco. O tamanho gigantesco da "estrutura espacial" do palco novo parece mesmo um desafio para a banda. Eles inevitavelmente ficam mais separados e, para dar conta de se comunicar com o publico que esta por todos os lados, tem que percorrer o palco inteiro, o que significa cruzar as pontes e dar a volta completa no anel exterior, o que parece ser exaustivo.
Mas seria mesmo pouco classificar um show desse porte apenas como "show". O que o U2 apresentou nessas duas noites novaiorquinas foi na verdade um espetaculo que vai muito alem da musica. Alem do palco gigante, com a plataforma central - onde esta a bateria de Larry Mullen Jr - que gira, os teloes de altissima definicao transmitem imagens feitas a partir de uma estacao espacial. Os efeitos de palco sao realmente de tirar o folego.
E eh mesmo o "espaco" o tema central do show. A musica de abertura (o U2 sempre escolhe uma musica de outra banda para fazer a abertura de seus shows) eh Space Oddity, de David Bowie, o que cria um tremendo clima para o inicio. E a musica de encerramento, nao menos classica, eh Rocket Man, em sua versao original de Elton John.
A noite de 23 de setembro, alias, foi uma noite de homenagens. Na sexta cancao do show, Bono arranca gritos da plateia de New Jersey ao lembrar que eh dia do aniversario de Bruce Springsteen e dedica ao "the boss" uma improvisada versao de "She's the one", que a banda nao da conta de terminar, emendando em "Desire". Mas a homenagem eh sincera e Bono se desculpa pela improvisacao e diz com muito respeito que Bruce esta fazendo 60 anos e que por isso a noite eh ainda mais especial.
Elevation eh a musica que da continuidade ao show e parece que ele finalmente vai decolar, mas... nao decola. As musicas parecem estar mais lentas e o publico nao responde com muita energia. Uma versao disco de "I'll go crazy if I dont go crazy tonight" deixa ainda mais claro que este nao eh um show do U2 com a mesma forca e vitalidade de anos anteriores.
Bono continua querendo salvar o mundo. Fala da Africa e das 3,5 milhoes de criancas salvas no mundo gracas a imunizacao em "One", convida dezenas de voluntarios a usarem uma mascara com o rosto de Aung San Suu Kyi (lider eleita de Burma, que nunca pode assumir sua posicao) em "Walk on" e ainda percorre o palco de maos dadas com um garotinho em "Where the streets have no name". A megalomania ja vista outrora no palco de Pop Mart, cede espaco agora para algo nao menos grandioso, mas um pouco mais real, embora a banda lance mao ainda de efeitos pirotecnicos na roupa e nos equipamentos (Bono usa uma jaqueta com leds e canta num microfone iluminado em "Ultraviolet").
Exagerado, magalomaniaco, mais lento do que se esperava. Nada disso, porem, fez do show do U2 no Giants Stadium um espetaculo dispensavel de se ver. Eh de fato uma das maiores bandas do mundo. E contra fatos nao ha argumentos - o show de 24 de setembro quebrou um recorde de mais de 84.000 pessoas no Giants Stadium, recorde este que pertencia ao Papa Joao Paulo II em sua visita de 1995. Nao deve ser coincidencia a banda encerrar o show com "Moment of surrender".

(texto escrito originalmente sem acentos)

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